Texto de Dom Luiz Antonio Cipolini publicado no jornal diocesano "No Meio de Nós" de junho de 2019
Na 57ª Assembleia Geral da CNBB, a Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, em sua declaração, adverte-nos para sete tendências atuais que ameaçam a ortodoxia e a vivência da fé, na sua unidade e integralidade. São erros e heresias atuais. Resumo alguns trechos:
1. O problema do ateísmo e do secularismo. Chega-se devagar à “morte de Deus”. Há uma recusa da autoridade. Só se aceita a tolerância. A impunidade diante dos erros com base no dito “o inferno existe, mas está vazio” pode conduzir à banalidade do mal. A máxima “se Deus não existe, tudo é permitido” está em voga. Enfim, o direito de a Igreja existir no mundo moderno é contestado até por cristãos.
2. O antropocentrismo exagerado. Leva ao relativismo em todos os campos, inclusive o ético. Afirma-se que o homem não só pensa, mas faz a “sua” verdade. É a fé dissociada da prática. O homem se faz Deus e tudo recria.... De um lado há os que acham sufi ciente acudir às urgências no empenho por um mundo justo e fraterno, e por outro lado a tendência ao fundamentalismo espiritual, que deseja uma Igreja espiritualista, separando fé e vida.
3. Quase não se fala mais em pecado. É politicamente incorreto falar de pecado. Hoje o psicologismo isenta a todos de culpa. Torna-se necessário formar as consciências.
4. Separação entre a fé, a oração e a ação. A vida de oração, espiritualidade e liturgia não podem ser vistas como realidades ultrapassadas, mas partes integrantes da vida eclesial. A Igreja deve crer o que reza e praticar o que crê.
5. A fé permeada apenas pelo emocional-afetivo e o folclórico. Há que se perguntar até que ponto o desejo de satisfazer e acolher nos leva a passar por cima de verdades irrenunciáveis, nos faz banalizar a Eucaristia em celebrações que fogem até mesmo ao decoro litúrgico, etc.
6. Teologia tentada a limitar-se a ser Ciência da Religião. A Teologia é a fé iluminada pela razão, a fé que busca compreensão. É ciência, mas supõe a fé. A Ciência da Religião estuda a religião como busca de sentido, mas sem a exigência da fé.
7. Confiança excessiva na ação humana sem levar em conta o primado da graça de Deus. Pelagianismo, denunciado pelo Papa Francisco, que leva a atribuir tudo ao esforço pessoal e à vontade própria. Daí vem o mundanismo. A opção pelos pobres deve ser fruto da fé cristológica, e não apenas de uma indignação ética, diante da miséria, como se fosse uma ideologia.
Devemos nos perguntar se a evasão de fiéis para outras denominações, além de todos os motivos já elencados e sabidos, não é provocada, também, pela insegurança doutrinal, que leva cada um a crer no que convém, fazendo como que um self-service dos conteúdos da fé.